sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

1 de Janeiro de 2010



Tomar banho de chuva é algo tão banal numa cidade como Belém que não damos valor para isso, pelo contrário, na maioria das vezes nos irritamos profundamente por ter que chegar molhados ao trabalho, à escola, à faculdade…etc. De fato não é legal ter que passar o dia de trabalho com a roupa encharcada, sentado de costas para o condicionador de ar, ou ouvir aquele tipo de piadinha ao entrar na sala de aula: nossa, como você está suado, o Sol “tá muito forte” aí fora, fato é que, na correria na qual estamos habituados, a chuva tornou-se muito mais um empecilho para a nossa rotina do que um evento bem quisto e encarado com naturalidade, haja visto a quantidade de “p*#@ que pariu, tinha que chover na hora deu sair” que escutamos pelas bocas das pessoas.
Pois bem, eis que nesse primeiro dia de 2010, depois de ter encarado uma noite de intensa bebedeira comemorando a passagem do ano (noite que mereceria um post só pra ela) e acordar as 4 e meia da tarde, resolvo tomar banho de chuva, chuva que por sinal ainda cai na cidade no momento em que escrevo este relato (01:32 da madrugada). Sem hesitar, ligo para um amigo daqueles que sempre topa os convites mais esdrúxulos que fizeres, sem muitas perguntas, apenas com uma observação: nada que envolva homossexualidade.
Sem carteiras, sem celulares, sem roteiro e com apenas um real em moeda, pusemo-nos a caminhar pelas ruas da cidade em direção ao centro, com a chuva que àquela altura não estava tão forte, mas o suficiente para encharcar nossas roupas e tornar os passos um pouco mais pesados. A cada quadra percorrida ia ficando para trás, pelas poças d’água no caminho, uma opinião, uma idéia ou mesmo um devaneio surgido daquela despretenciosa caminhada vespertina, traçando assim, sem uma ordem cronológica, um perfil do ano que se passou, trazendo a tona discussões sobre acontecimentos de nossas vidas e as suas repercussões, praticamente uma retrospectiva 2009, mas sem a eloquência da voz do Sérgio Chapelin e sem as inutilidades de conhecimento geral, como o vencedor do BBB do ano ou a celebridade que teve filho. Depois de muita conversa, chegamos a conclusão de que foi um bom ano, na verdade, um excelente ano, recheado de mudanças, em sua grande maioria, para a melhor.
Resolvemos dar uma parada na Casa das Onze Janelas, no coração do Centro Histórico de Belém, sentamos num banco de madeira do jardim , que não sei se pelo cansaço da caminhada ou mesmo pelo bom design do móvel, pareceu extremamente confortável. A chuva deu uma “engrossada” dando a impressão de que estava apenas esperando que achássemos um porto seguro, para poder pesar mais forte sobre os nossos ombros. Como se estivéssemos seguindo um script, começamos a divagar sobre os momentos atuais de nossas vidas, onde estamos, profissionalmente, sentimentalmente, familiarmente, enfim, em diversos aspectos, o que imediatamente puxou um papo sobre metas e propósitos para esse ano que chegou com a responsabilidade de suceder um ano de conquistas e de boas mudanças, como já citado. Eu que não gostaria de estar na pele desse ano, pois vai ter trabalho, vai ter que se esforçar muito pra superar 2009, pelos menos no que diz respeito a minha vida. Não tenho do que reclamar, fiz muitos amigos, arranjei um emprego do qual eu gosto e na área que gosto, e pra finalizar surge a oportunidade de continuar meus estudos, tudo deu certo, mesmo o que começou errado.
Depois de duas horas de uma conversa séria e animadora, o cansaço, o frio e a fome nos avisaram que era hora de voltar para casa. Novamente não traçamos previamente um caminho de volta, apenas decidimos que não voltaríamos pelo mesmo lugar que viemos. Superstição? Ritual? Mandinga? Não! Pura praticidade. O papo da volta foi descontraído, sem aquele peso todo de reflexões importantes sobre a vida. Falamos de séries de TV da infância, desenhos animados e todo o tipo de papo que sempre surge quando dois nerds se encontram pra conversar. A chuva entrou no clima descontraído e resolveu “dar uma folga”, reduzindo-se a pingos que malmente podiam ser sentidos debaixo da camisa já encharcada. Chegando na Vila onde moramos, despedi-me do meu amigo e entrei em casa, cansado, com fome, com frio, porém revigorado, com a certeza de que não poderia ter sido melhor o meu primeiro dia do ano.
Quanto a chuva, pode parecer que esta é mera coadjuvante na história toda, mas sem ela eu não teria me motivado a sair de casa e não teria passado por tudo isso que descrevi parcamente, que pode parecer uma experiência comum da vida de todos, e realmente o é, mas é o tipo de hábito que devemos nutrir, pois, acima de tudo, faz bem pra alma. Não faz muito bem pro corpo, já que a possibilidade de pegar um resfriado é muito grande, mas numa cidade como Belém, que tem uma farmácia a cada esquina, isso não deve ser um motivo de grande preocupação.

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